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A inclusão do deficiente intelectual no ensino regular

Inclusão do deficiente intelectual no ensino regular: questões sobre a identidade do professor de apoio

 

Inclusion of intellectual deficient in regular education: questions about the identity of the teacher support

 

Eliane Francisca de Oliveira
eliane_ipo@yahoo.com.br

 

Resumo:

 

O presente estudo tem como premissa realizar uma análise pontuada pela inclusão do aluno com deficiência intelectual no contexto do Ensino Regular. Para tanto, tem-se como ponto de partida o professor de apoio e a construção de sua identidade. A pesquisa origina-se da compreensão de que uma sociedade que deseje ser inclusiva necessita de uma escola que tenha tais características. Insere-se, então, nessa perspectiva, o professor de apoio que, mais do que simplesmente estar em sala de aula, como um mero “acompanhante”, tem papel fundamental na aquisição do conhecimento e por isso, deve buscar a construção de sua identidade. De cunho bibliográfico, a pesquisa teve como objetivo principal responder às seguintes questões: quais os pressupostos da inclusão no ensino regular? Como o professor de apoio constrói sua identidade de modo que possa, efetivamente, contribuir com a aprendizagem do deficiente na escola de ensino regular? O estudo divide-se em três tópicos, sendo que o primeiro contextualiza os processos de inclusão, o segundo se refere à inclusão de sujeitos com deficiência intelectual e o terceiro, trata da reflexão acerca do papel do professor de apoio considerando sua identidade.

 

Palavras-chave: Professor. Escola. Deficiente mental. Aprendizagem.

 

Abstract:

 

This study is premised perform an analysis punctuated by the inclusion of students with intellectual disabilities in the context of Regular Education. For both, has as its starting point the support teacher and the construction of their identity. The research stems from the understanding that a society that wishes to be inclusive needs a school that has such characteristics. Then fits into this perspective, the support teacher who, more than just being in the classroom, as a mere “passenger” has a fundamental role in the acquisition of knowledge and therefore must seek to build their identity . Bibliographic nature, the research aimed to answer the following questions: What are the assumptions of inclusion in mainstream education? As the support teacher constructs his identity so that it can effectively contribute to the learning disabled in mainstream school? The study is divided into three topics, the first of which contextualizes the processes of inclusion, the second refers to the inclusion of individuals with intellectual disability and the third deals with the reflection on the role of teacher support considering his identity.

 

Keywords: Teacher. School. Mentally retarded. Learning.

Introdução

A presente pesquisa é produto de uma investigação acerca da deficiência intelectual e das reflexões suscitadas pela análise do papel do professor de apoio quando se trata da escola de ensino regular. Existem diversos documentos que norteiam o processo de inclusão, mas o que se sabe é que na prática esse processo foi dificultado pelas inúmeras concepções que separavam ou segregavam os indivíduos que tivessem qualquer tipo de necessidade especial. No contexto brasileiro, os pressupostos da inclusão foram postulados a partir da década de 1990 e teve como principal norteador a Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994).

 

De acordo com a legislação que norteia a inclusão ou a educação inclusiva, essa é caracterizada como um meio de resposta e, por consequência, de ampliação ao acesso, de grupos que em uma análise históricosocial, encontraram-se à margem dos processos de inserção social, dentre esses, os deficientes visuais, físicos e mentais. O princípio básico desse artigo é a compreensão de como os deficientes intelectuais passam pelo processo de inclusão no ensino regular e se amplia com a consideração de que o professor de apoio é parte essencial desse processo e que por isso, necessita de uma ampla discussão acerca de seus papeis e sua identidade.

 

1. A construção histórica do conceito de inclusão

 

Quando se analisa os processos de inclusão, seu contexto histórico remete à época na qual os indivíduos que possuíam qualquer tipo de deficiência eram abandonados à própria sorte. Desse período até a atualidade, muitos foram os avanços e, de um processo que segregava, a sociedade passou a incluir.
Considerando para os fins desse artigo a sua construção histórica, ressalta-se que as políticas de inclusão ganharam maior espaço a partir de 1968 quando a UNESCO, regulamentou um programa de atendimento a sujeitos com deficiência. A partir desse período, houve a consolidação do termo “Educação Especial” que visava, sobretudo, a inserção nos contextos sociais a partir dos processos educativos. De acordo com as diretrizes da educação especial, seus objetivos são apresentados como sendo “destinada às crianças com deficiências mentais, sensoriais, motoras ou afetivas são muito similares aos da educação geral, quer dizer: possibilitar ao máximo o desenvolvimento individual das aptidões intelectuais, escolares e sociais.” (UNESCO, 1968, p. 12).

 

Na década de 1970, diversos países que já apresentavam maior eficiência nos processos inclusivos, tendo como base uma metodologia de inclusão e não apenas de inserção, passaram a se mobilizar no sentido de evocar o que Santos (1997) denominou de “ações mobilizadoras”. Surge, nesse aspecto, a “filosofia da inclusão”, embora isso não tenha significado uma mudança substancial nos paradigmas que norteavam os processos educativos.

 

Ainda que o debate tenha se ampliado em relação às verdadeiras formas de inclusão dos sujeitos com qualquer tipo de deficiência, a inclusão no século XX ficou relegada a uma visão tradicionalista que partia de uma visão da necessidade de integração, mas concebida de modo que a própria sociedade se abstivesse de participar ou dividir as responsabilidades sobre tais indivíduos.

 

Nesse sentido, observa-se que a concepção tradicionalista de inclusão perde espaço e as visões de que, bastaria ao sujeito que houvesse uma normativa de integração foram se transformando. Considerando o limiar do século XXI e da nova sociedade que ganharia nesse período, as discussões sobre a inclusão voltaram-se para outra perspectiva, a da não aceitação de qualquer forma de exclusão.

 

De acordo com Stainback e Stainback (1999)

 

No ano de 1986 é proposto por Madeleine Will, através do “Regular Education Iniciative”, que a educação das pessoas com deficiência venha a tornar-se responsabilidade das estruturas de educação regular, encorajando, inclusive, os programas de educação especial a desenvolver uma parceria com a Educação Regular. (STEINBACK e STAINBACK, 1999, p.40)

Diante das perspectivas apresentadas em tal documento, uma nova forma de considerar a inclusão passou a ser discutida. Nesse âmbito, Mendes (1999) destaca que nos meios de inclusão que existiam na década de 1980, qualquer forma de estigmatização era prejudicial. Sobre as instituições de educação especial, o autor postula que o ensino especializado tornou-se ineficaz, pois não se considerava os sujeitos e sua capacidade de aprendizagem e que os deficientes eram discriminados, uma vez que as escolas não conseguiam pensar em estratégias nas quais estes eram vistos com verdadeiro potencial de desenvolvimento.

 

O que se tornou desafiante à perspectiva de escolarização do deficiente foi a forma como esse processo se tornaria possível, uma vez que, não bastava ter o sujeito no interior da escola, era preciso que esse fosse estimulado a descobrir suas formas e meios de aprendizagem. Desse modo, é correto afirmar que o desafio maior não foi abrir as portas da escola para o deficiente, mas fazer com que essas instituições se constituíssem em verdadeiros espaços de aprendizagem que atendessem às demandas sociais.

 

Segundo Bueno (1999), foi na segunda metade da década de 1990 que o novo modelo de atendimento começou a ser discutido no Brasil. Esse novo pensamento delineava o que se convencionou chamar de “inclusão escolar”. Nessa perspectiva de ensino, já não se pensava em métodos de simples integração dos sujeitos em escolas especiais, mas se fortalecia a prerrogativa de que os deficientes, assim como os demais, poderiam freqüentar o ensino regular e desenvolver suas aptidões junto com os outros.

 

O modelo anterior, de integração passa a ser fortemente criticado, isso porque nesse contexto, imperava o pensamento de que nem todos os sujeitos com deficiência possuíam “condições” de estar no espaço institucional. Bueno (1999) destaca que sob tal discurso imperava a posição do sistema educacional que insistia em não reconhecer seu papel social e sua função enquanto meio de socialização e construção de valores.

 

A inclusão considera a inserção de alunos por meio de outro ângulo, isto é, aquele que reconhece a existência de inúmeras diferenças (pessoais, lingüísticas, culturais, sociais etc.), e, ao reconhecê-las, mostra a necessidade de mudança do sistema educacional que, na realidade, não se encontra preparado para atender a essa clientela (BUENO, 1999, p. 123).

 

No final do século XX os movimentos sociais em prol da verdadeira inclusão se tornaram ferramentas importantes de quebra de velhos paradigmas e construção de novos. Tais movimentos buscaram o reconhecimento pleno dos direitos das pessoas com deficiência de fazerem parte, de forma efetiva, dos processos históricos no qual a discriminação foi severamente combatida. Ressalta-se que no âmbito internacional, os encontros mediados pela UNESCO tiveram o propósito de regimentar e orientar os novos pressupostos da educação inclusiva.

 

É possível destacar, nesse contexto, a Declaração de Jomtien (Tailândia, 1990) e a Declaração de Salamanca (Espanha, 1994). Esses são considerados os documentos nos quais os princípios da inclusão foram amplamente debatidos e os conceitos de “Necessidades Educativas Especiais” tomaram forma e se expandiram. Em Salamanca, elaborou-se o documento denominado “Declaração de Salamanca e Linha de Ação sobre Necessidades Educativas Especiais”. De acordo com Carvalho (1998, p.146) “inspirada na igualdade de valor entre as pessoas, propõe ações a serem assumidas pelos governos em atenção às diferenças individuais.

 

A Declaração de Salamanca ( BRASIL, 1994) afirma que a inclusão deve ser vista com um desafio a ser superado, principalmente nos espaços educativos. Isso fica claro quando se considera que tal documento estabelece a educação como um direito de todos, não somente aos que possuem qualquer tipo de necessidade educacional especial. Isso amplia o debate acerca do real papel da escola, que se constitui, muitas vezes, em espaço de exclusão e segregação.

 

De acordo com a Declaração de Salamanca (BRASIL,1994) é papel da escola acolher todas as crianças. Nesse sentido, o espaço escolar deve abrigá-las sem considerar as condições que apresentem, sejam físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou históricas. No processo de acolhimento, a escola precisa observar que não são apenas as deficientes que carecem de atenção especial, mas as dotadas, as que vivem nas ruas, as que mesmo com tenra idade já trabalham e são responsáveis pelo sustento de suas famílias, as que pertencem às minorias raciais ou culturais, assim como as que são menos favorecidas socialmente ou que se encontram à margem da sociedade.

 

Em contraponto com a criação de escolas de ensino especial, a Declaração de Salamanca aponta para o fato de que todos os sujeitos devem interagir para aprenderem. Tal aspecto considera, sobretudo, a socialização como ponto de partida para a aprendizagem e a escola como mediadora desse processo. O que o documento preconiza, efetivamente, é que independente da capacidade apresentada, todo sujeito deve estar em contato com o outro.

 

Ainda que se defenda a escolarização no ensino regular, a Declaração de Salamanca prevê os casos em que apenas esse contexto não consegue atender às reais necessidades do educando. Desse modo, as instituições de ensino especial possuem o papel de complementar aquilo que a escola regular não consegue atingir. De modo geral, considera-se que a Declaração de Salamanca tenha trazido uma nova série de valores importantes para o campo da inclusão escolar e isso se tornou perceptível na forma com que as instituições foram repensadas e redimensionadas a fim de acolher plenamente os sujeitos.
No entanto, os processos de inclusão não podem ser coloridos com os tons suaves das afirmações positivas. Até os dias atuais é possível ainda se verificar que em muitos contextos, o sujeito com deficiência é deixado de lado, ou seja, permanece dentro da sala de aula do ensino regular, em diversos casos com o acompanhamento do profissional de apoio, mas sem qualquer perspectiva de aprendizagem.

 

Do mesmo modo ocorre com o deficiente intelectual, uma vez que nem sempre sua dimensão de aprendizagem pode ser comparada com os sujeitos que apresentam outro tipo de deficiência. Assim, torna-se necessária a compreensão de como o processo de ensino e aprendizagem do indivíduo com deficiência intelectual é dimensionado e efetivado.

 

2. O aluno com deficiência mental em face à aprendizagem

 

Sobre a dimensão histórica da deficiência intelectual, os referenciais teóricos apontam para o fato de que essa tem sido compreendida como comprometimento na aprendizagem originado por um aspecto de desenvolvimento que se mostra mais lento em alguns sujeitos quando comparados a outros.
Ressalta-se que, no âmbito da deficiência intelectual é quase que impossível negar as dificuldades que permeiam a aprendizagem. São grandes as limitações que podem interferir na aquisição de conhecimentos e que podem ser oriundas de desordens neurológicas ou intelectuais, características próprias de cada sujeito e que necessitam de um profissional capaz de compreender em que dimensão é possível mediar a aprendizagem.

 

No que diz respeito às limitações, essas aparecem principalmente quando a criança é desafiada a apresentar soluções lógicas para diferentes problematizações ou para situações cotidianas. Nesse sentido, cabe à escola, conhecedora de seu papel social, a responsabilidade de colocar à disposição os recursos, procedimentos e profissionais que possibilitem o alcance das aptidões inerentes a cada sujeito. Há uma crítica muito grande acerca do modo com que a escola pensa o currículo voltado para o deficiente intelectual. O que se percebe, em muitos contextos, é a tentativa de aproximar o currículo da limitação do sujeito, ou seja, torná-lo menos desafiador, com atividades que mostrem uma menor complexidade. Acerca dessa prática Telford e Sawrey (2005), afirmam que

 

os alunos que apresentam deficiência mental sentem-se mais incapazes, porque essas práticas não propiciam seu desenvolvimento cognitivo, o que faz com que eles desenvolvam baixas expectativas quanto a sua aprendizagem. Deste modo, podemos afirmar que a criança se sente excluída de seu contexto social e escolar (TELFORD e SAWREY, 2005, p.12)

 

No discurso dos autores há o reforço de que a partir do momento em que os indivíduos são rotulados como “deficientes mentais”, esses passam a ser vistos como mentalmente incapazes. O que não se leva em conta é que nem sempre o prejuízo de aprendizagem ou o comportamento adaptativo diferente do esperado implica em incapacidade mental. Em muitos casos, o indivíduo sofre de maturação neural tardia que pode se agravar quando visto com descaso ou apenas como um “coitado” que precisa ser poupado dos desafios que são naturais no processo de escolarização.
De acordo com Omote (1994) nem sempre os problemas enfrentados pelos sujeitos com deficiência mental são de ordem orgânica. Assim, acredita-se que imposição de um ideal de perfeição, feita pela sociedade gere muito mais dificuldades do que a deficiência propriamente dita.

 

O nome deficiente se refere a um status adquirido por essas pessoas. Nesse modo de encarar a deficiência, uma variável crítica é a audiência, porque é ela que, em última instância vai determinar se uma pessoa é deficiente ou não. Significa que ninguém é deficiente apenas pelas qualidades que possui ou que deixa de possuir. Uma pessoa só pode ser deficiente perante uma audiência que a considera, segundo seus critérios como deficiente (OMOTE, 1994, p. 07).

 

O que o autor deixa claro em sua reflexão, é o papel que a sociedade assume diante dos sujeitos, tenham esses deficiência mental ou outra. Desse modo, compreende-se que seja necessário um anteparo social para lidar com a deficiência e seus desdobramentos e a sociedade, não se encontra ainda preparada para lidar com as diferenças em todas as suas dimensões.

 

É importante que se destaque que tal despreparo resulta principalmente em exclusão. Até pouco tempo, os deficientes mentais eram vistos como “doidinhos”, pessoas que inspiravam medo e que, sob muitas circunstâncias tinham a imagem utilizada para incutir terror nas crianças. O deficiente mental é visto sob outra ótica, diferente do físico, por exemplo. Enquanto esse último é tratado com um sentimento de pena, o primeiro é considerado como responsável por sua própria condição, incapaz de se socializar ou de se escolarizar.

 

Nos processos de ensino e aprendizagem do sujeito com deficiência mental outra crítica pode ser tecida quando se considera o ambiente educativo. A esse respeito, Ferreira (2002) discorre que o professor deve levar em conta que o deficiente mental possua limitações, mas o trabalho em sala de aula tem que se voltar para as habilidades a serem desenvolvidas, não para as limitações. Ao agir dessa forma, o professor cria expectativas positivas de aprendizagem que irão se concretizar nos mínimos esforços depreendidos.

Segundo Ferreira (2002)

 

Ao interpretar a deficiência como um fenômeno centrado no indivíduo, inúmeras distorções de sentido ocorrem. Os atendimentos educacionais e terapêuticos são encaminhados para uma linha de ação que acentua as condições patológicas do aluno e subestima, entre outros aspectos, as condições deficitárias de ensino (FERREIRA, 2002, p.58)

Nesse aspecto, é importante que se destaque que não há uma negação da deficiência, como se essa não existisse. O que se ressalta é que no trabalho educativo, o professor possa pensar em seu aluno sob a perspectiva das possibilidades e não das deficiências. Isso significa um trabalho incansável de busca por novas metodologias, outros recursos e por um profissional de apoio que seja seu parceiro nessa empreitada e não apenas aquele que acompanha o aluno desde sua entrada na escola até a saída, no final de um período.

 

Citando Mantoan (2006) é possível considerar que no contexto da inclusão escolar, novas formas de ver e fazer a educação sejam requeridas. Desse modo, concordando com a autora, destaca-se que no caminho da inclusão é impossível à escola se manter no mesmo rumo, se utilizar dos mesmos métodos ou ter as mesmas perspectivas. Assim, uma mudança, principalmente na forma como a educação é concebida, torna-se essencial para que a verdadeira inclusão possa ocorrer, considerando que todos que buscam uma instituição de ensino possuem uma determinada necessidade de aprendizagem.

 

A meta da inclusão é, desde o início, não deixar ninguém fora do sistema escolar, que deverá adaptar-se às particularidades de todos os alunos […] à medida que as práticas educacionais excludentes do passado vão dando espaço e oportunidade à unificação das modalidades de educação, regular e especial, em um sistema único de ensino, caminha-se em direção a uma reforma educacional mais ampla, em que todos os alunos começam a ter suas necessidades educacionais satisfeitas dentro da educação regular (MANTOAN, 2006, p.46).

 

Na análise dos pressupostos da inclusão, o que se percebe é que esse aspecto só avançou a partir do momento em que se passou a considerá-la como um “processo” (CARVALHO, 2007). Na verdade, como processo, a inclusão escolar não se dá de um momento para outro. No tocante à aprendizagem do deficiente mental, a quebra de paradigmas advém de uma constante reflexão cujo pensar se transforme em atitudes. Nessa perspectiva é que se coloca então, em discussão, o papel do professor de apoio considerando a sua identidade enquanto construtor do conhecimento mediado na inclusão escolar.

 

3. Quem é o professor de apoio? Reflexões sobre sua identidade

 

De acordo com os referenciais teóricos, pouco se discute sobre o profissional que atua junto com o professor no ensino regular. Chamado de “apoio”, geralmente esse profissional acompanha o aluno que, de posse de um laudo médico, requisite atendimento especial.
O professor de apoio, durante muito tempo, foi concebido como aquele que seria a “muleta” do deficiente, ou seja, agiria como um facilitador de sua permanência na escola, sem se preocupar em exercer qualquer função educativa que não essa. No entanto, com o avanço das discussões acerca dos processos de inclusão escolar, a identidade do professor de apoio foi sendo construída e reconstruída.

 

Para que melhor se compreenda essa dimensão, torna-se necessária uma análise histórico-social acerca das visões e dos discursos que os professores possuíam sobre os significados da inclusão e principalmente, do trabalho com o deficiente mental. Inicialmente, quando começaram as primeiras discussões sobre a necessidade de integração dos indivíduos com algum tipo de deficiência, houve uma grande resistência por parte dos professores e dos demais profissionais da educação.

 

O desafio interposto pela inclusão em alguns momentos tornou-se um problema, principalmente para aquele profissional cuja concepção de ensino e aprendizagem ainda se baseava em um modelo tradicional centrado em conceitos fechados e tradicionais. Tal resistência é justificada no fato de que, em seu processo de implantação, poucos professores compreendiam a dimensão social da escola e seu papel na inclusão.

 

Assim, o que se tornou comum nos espaços escolares foi o encaminhamento dos considerados deficientes para as escolas de ensino especial, como forma de se isentar das responsabilidades que o contexto educativo assume mediante a sociedade. Com o advento da Declaração de Salamanca e a inclusão no ensino regular, outra perspectiva foi dada ao processo de ensino-aprendizagem, o que não significou o fim da resistência de alguns professores.

 

De acordo com Carvalho (2007) o distanciamento entre o processo e seus agentes foi o responsável pela resistência. Como é comum em algumas fases da educação brasileira, a inclusão surgiu como uma necessidade, mas em alguns contextos, o papel da escola não foi problematizado ou discutido. O que surgiu desse processo, se refletiu na própria escolarização dos deficientes. No caso dos deficientes mentais, tal problema foi além, considerando todo o preconceito que gira em torno dessa condição.

 

No que diz respeito ao preparo do professor em face à inclusão, a reflexão parte da análise da formação teórica cujo principal objetivo tenha sido construir uma identidade que caminhasse com a escola nos processos de inclusão. Considerando a escola regular e seu currículo, o que se tem é uma tentativa de adaptação ao nível de aprendizagem que o deficiente consegue alcançar, mas isso nem sempre incorre em uma mudança de postura ou até mesmo o surgimento de um novo paradigma.

 

Voltando a investigação novamente para o profissional de apoio, sua existência é regulamentada pelas Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica e deve agregar um conjunto de competências que o tornem mais do que um professor a mais em sala de aula, mas acima de tudo um facilitador da aprendizagem mediada pela inclusão. Desse modo, isso significa que a identidade desse profissional deve se pautar pelo trabalho contínuo de pesquisa e investigação na qual o sujeito com necessidades especiais de aprendizagem ou deficiência seja o foco principal.

 

Embora em muitos casos, em diversos contextos educativos o profissional de apoio seja aquele que, incapaz de cumprir uma carga horária como professor regente, acaba por assumir a responsabilidade sob um ou mais alunos. Por diversas vezes é possível perceber que tal “ajeitamento” acaba por interferir na aprendizagem do aluno. Em outra dimensão, também se torna perceptível que o profissional de apoio terminar por ser considerado um intruso, aquele que vai julgar se o professor regente está ministrando corretamente o conteúdo programado ou se está atendendo o aluno da forma como se considera correta.

 

Ainda se tratando da identidade do professor de apoio, convém mencionar que esse não é babá do aluno, mas que ainda assim a afetividade deve ser o ponto de união entre esses. No caso do deficiente mental, o profissional de apoio é visto como peça essencial na construção dos saberes, pois pelos laços oriundos da afetividade, a aprendizagem pode ser efetivada.

 

Em uma esfera mais ampla considera-se que a inclusão escolar não seja mais vista como um método paralelo ou um sistema segregador. Pelo contrário, tal aspecto deve ser considerado como uma forma de aceitar a heterogeneidade e a diversidade. Do mesmo modo, considera-se o espaço da sala de aula como um grande laboratório de multiculturalismo e inserido nesse contexto, encontra-se o profissional de apoio, que tem como função garantir que as metas de aprendizagens estabelecidas possam ser alcançadas.

 

Ainda sobre a identidade desse profissional e considerando as particularidades da escolarização do deficiente mental, não é mais possível conceber que o apoio seja apenas aquele que “acompanha” o aluno em sala de aula e sim como aquele que será o suporte, o meio de assegurar que o currículo será pensado de forma a, não minimizar o ensino, mas fazê-lo dentro da perspectiva de aprendizagem do sujeito.

 

Considerações Finais

 

A proposta para a construção do estudo aqui efetivado adveio da análise da inclusão e seus desdobramentos no contexto da escola de ensino regular. De modo geral, as expectativas da pesquisa foram alcançadas, uma vez que a teoria acerca da inclusão tem-se mostrado eficiente em alguns esclarecimentos, principalmente ao se considerar as diversas pesquisas que já se realizaram ao longo do processo de implantação da educação inclusiva no âmbito do ensino regular.

 

No que diz respeito à aprendizagem do deficiente mental, é possível postular que, embora exista todo um complexo sistema que o difere dos demais, a condição da deficiência não é a única responsável pela problemática que cerca todo o seu processo de escolarização. Pelo contrário, a não aceitação da sociedade pode ser considerada como a principal responsável pela não aceitação das limitações impostas pelo fato dos sujeitos apresentaram qualquer tipo de deficiência mental ou intelectual.

 

Tal comportamento tem suas raízes históricas fincadas no próprio processo de formação dos grupos sociais e desse modo, durante muito tempo o deficiente mental foi visto como o “bobinho” ou o “doidinho” atribuição que associava à sua imagem a figura do perigo. Entretanto, o avanço da sociedade e os pressupostos da inclusão escolar terminaram por mudar esse aspecto e ainda que se considere a existência do preconceito ou da discriminação, o deficiente mental tem passado pelo processo de escolarização.

 

Em relação ao profissional de apoio, a pesquisa buscou alguns aspectos de sua identidade e o que os discursos refletem é que esse ainda é visto, em muitos contextos, como aquele que vai fazer com que a estadia do deficiente mental em sala de aula não será tão perturbadora. Observou-se também que há um embate de papeis na instituição, uma vez que não é considerada função do apoio o ato de ensinar, mas mediar esse processo junto ao professor regente.

 

Como desdobramento da pesquisa proposta, é possível ampliar a investigação e assim ouvir os profissionais envolvidos na inclusão do deficiente mental no ensino regular de modo que um perfil possa ser traçado. Desse modo, o estudo pretendido finaliza com a consideração de que, sob muitos aspectos, a inclusão escolar, assim como a social ainda é um sonho, uma vez que ainda existe resistência por parte dos sujeitos envolvidos nesse processo.

 

REFERÊNCIAS

BRASIL, MEC/SEESP. Política Nacional de Educação Especial. Brasília. 1994.

BUENO, José Geraldo Silveira Bueno. Educação especial brasileira, integração/segregação do aluno diferente. 2ª edição. São Paulo, 2004.

CARVALHO Rosita Edler. Educação inclusiva: com os pingos nos “is”. 5ª Edição, Porto Alegre, 2007.

FERREIRA, J. R. A exclusão da diferença: a educação do portador de deficiência Piracicaba: UNIMEP, 2002.

MANTOAN, Maria Tereza Egler. Inclusão escolar: o que é? Por quê? Como fazer?. São Paulo: ed.Moderna, 2006.

OMOTE, S. A integração do deficiente: um pseudoproblema? Anais da XXIV Reunião Anual da Sociedade de Psicologia de Ribeirão Preto/SP, 1994.

STAINBACK Susan e STAINBACK William. Um guia para educadores. Porto Alegre: Artes Médicas Sul Ltda, 1999

TELFORD, Charles W. ; SAWEY, James M. O Indivíduo Excepcional. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1988.

UNESCO. Declaração de Salamanca e linha de ação sobre necessidades educativas Especiais. Brasília: C

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