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O que é o trabalho? Reflexão de Núbia Cristina dos Santos Lemes

Considero que para explorar o conceito de trabalho, neste dia que dedicamos à sua comemoração, preciso levar em conta um elemento especialmente importante a ele associado e que sem esse elemento o trabalho não se realiza. Refiro-me ao trabalhador. No amplo espectro que cobre a ideia de trabalhador, resolvi falar de uma categoria profissional. Elegi a categoria na qual me insiro e que tem sido essencialmente importante para a manutenção da atividade mental dos estudantes nesse momento de pandemia: o professor!

Em razão de lidar com um objeto muito particular em seu trabalho, o professor exerce uma transformação diferente da que é feita sobre o objeto material. O objeto de trabalho do professor é o aluno, que, ao mesmo tempo, é sujeito e consumidor da aula. Se o trabalho do professor fosse realizado sobre um objeto, sobre algo material, seria possível enxergar o produto que ele cria. Mas o trabalho do professor não é como o trabalho de uma costureira que faz y máscaras em x minutos. Se assim fosse, poderíamos mensurar quantitativamente a sua produção.

O trabalho docente também não se encerra na sala de aula, porque antes de chegar a esse lugar privilegiado de ensino, o professor planeja os instrumentos que deverá utilizar para cada turma e, muitas vezes, diferentes atividades que contemplem os distintos níveis de aprendizagem numa mesma sala de aula. Assim, feriados e finais de semana não são para descanso, mas são os momentos em que o professor utiliza para planejar atividades diversificadas, corrigir trabalhos, elaborar provas, reelaborar exercícios.

O trabalho docente é muito complexo porque o professor não é transmissor de informações. Para esse fim tem-se as tecnologias digitais. Ao professor cabe lidar com o conhecimento, fazendo com que o aluno aprenda, por meio da seleção adequada de instrumentos, conteúdos, estratégias, da mediação e do planejamento minucioso, de acordo com cada realidade escolar.

O professor insere, desse modo, a sua vida no trabalho: perde noites de sono preocupado com um aluno que não está atingindo os objetivos previstos em determinada aula. E, ao longo de madrugadas, estuda meios de ensinar para que o aluno aprenda, porque para o professor, uma sala de aula não é apenas um agrupamento de pessoas que estão na escola (muitas vezes sem querer ali estar) para concluir a Educação Básica. Para o professor, uma sala de aula é o núcleo formal para onde converge todo um processo de formação que se sustenta devido à trama complexa produzida pelo seu trabalho contínuo. Ele sabe que seu trabalho é o responsável por fazer com que o aluno esteja em constante atividade mental, refletindo sobre as diversas coisas da vida e sobre como pode criar formas de agir sobre elas, modificando-as para o bem estar humano.

Não raras vezes, o sentimento de incapacidade perpassa o cotidiano docente, por ele acreditar que se não conseguiu atingir o que dele se exige, ele é o único responsável pelo fracasso daquela meta. Cito, como exemplo, a necessidade de o professor fazer com que uma quantia considerável dos alunos de uma turma realize as atividades remotas de uma quinzena escolar. O professor então se esquece de que nesse contexto devem ser consideradas muitas outras variáveis que não apenas o seu trabalho de ensinar. Entre essas variáveis, posso citar a falta de conhecimento dos alunos sobre como organizar o tempo e distribuí-lo para a realização das atividades de todas as disciplinas de sua sala de aula virtual. A esse respeito, muitos outros problemas podem ser apontados, como os ambientes inadequados de estudo em que a concentração do aluno para realizar as atividades escolares é comprometida em muitos lares; o pouco hábito de cumprir deveres escolares em casa e do óbvio que é a falta de acesso à internet.

Esse cenário fragiliza a saúde mental do professor e seu sofrimento pode evoluir para o adoecimento mental, que é outra invisibilidade do campo do trabalho de quem lida no setor de serviços. E é nesse contexto que se situa o trabalho de ensinar. Trabalho cuja realidade esse texto contempla apenas uma ínfima parcela. Mas, em sua amplitude, só o professor sabe o que ele demanda física e mentalmente para o seu trabalho acontecer, porque de qualquer trabalho, só entende e pode descrevê-lo, numa dimensão mais profunda, aquele que o realiza!

Núbia Cristina dos Santos Lemes é Doutora em Educação pela Universidade Federal de Goiás. É professora há 26 anos na Educação Básica e há 15 anos, no Ensino Superior.

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