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A crônica que fala sobre o cruento castigo do sol

“Que coisa linda, / Que coisa boa!
 Dois patinhos na lagoa”.

  

Que coisa cara, que coisa boa! Elástica, plástica – a lagoa;  plena paz para  a pessoa! O sol, o arrebol. Dia de luz que nos conduz, por um fio, no condão do tempo ao afã de um momento assaz, fugidio, fugaz de recordação;  memento para a alma e o coração, na calma sã, sadia, vadia daquela manhã.
 

 

Instigando, atando a gente, cálida, quente, notória a mente, nesta estória, qual Mecenas nos traz à memória, cenas da adolescência, a demência, o ardor do primeiro amor – Isabel, o mel de sua boca em flor, o andar, o jeitinho de anjo barroco; o rosto branquinho, redondinho, fofo; os olhos de jabuticaba, pretinhos, de uma ternura que não se acaba; a boca pequena, qual florzinha amena, o biquinho com aquele jeitinho a ofertar mil beijinhos; o falar com tanta ternura e carinho: “Ah, se você fosse mais velho!…”

 

 Abestalhado, embasbacado, bobo de tanta paixão por aquela deusa, o degas aqui, sem direção,  sem patatá nem patati, apela para o tango, o samba-canção. Na vitrola rola, no total do dia, aquela latumia, na agonia da triste repetição: “Não digo o nome de quem amo, / De quem eu gosto nunca falo, / Ninguém escuta quando eu chamo, / É por isso que me calo”.

 

 Recordações que nos prendem ao pretérito, o passado tão dileto, tão distante e tão presente; pura poesia, na calmaria daquele instante, daquele dia, amarga alegria, euforia n’alma, mente  e no coração da gente!
 Fugaz, arredio, o tempo flui, traquinas tal qual o vento, num corrupio passa, embaça nossa vivência, na dura labuta pela existência. Isabel, a branquinha de cara redondinha, a professorinha dos lábios de mel, o anjinho barroco, meu sufoco, meu apego, meu sossego e meu tormento na adolescência, tal qual o vento se dilui,  na quimera das eras, se esvai e cai no torvelinho do esquecimento.

 

 Em respeitoso e proveitoso solilóquio consigo e em colóquio com o amigo sol, cultiva a altiva civilização egípcia, em tempos idos e bem vividos, estranha façanha, súditos e faraós em uma só saudação, nas manhãs práticas, mágicas e sãs do antigo Egito, rito especial, milenar, bonito, o de captar energia solar na primeira hora do dia… Solícito o sol, sem usura, na constância de tanta abundância e fartura, fecunda todos os viventes – animais, flora e gente -,  perpetuando os elos e anelos do tear da vida, na freqüência da existência sideral do astro rei e da terra biodiversa e universa, na concepção do contexto da criação; sendo o sol o senhor e mentor do nascedouro e ancoradouro de tão duradoura e promissora civilização que a tudo eclipsa – a egípcia!  O compasso do estreito laço de  respeito ao pai sol e à mãe natureza, razão maior de sua riqueza!

 

 Vem a modernidade insana, profana em ardis, sutis  atrocidades; cuja regra é quebrar a unidade do todo, no engodo da sagacidade, velocidade e esperteza do acumular riquezas,  do muito ganhar…

 

 Veraz e assaz, qual Satanás na sanha por destruição, o homem, com mil proezas, desfaz a biodiversidade da natureza, na crueza da bruta realidade, bárbara busca do lucro sem escrúpulo! Teso  trabalho: tratores triturando tudo, não respeitando nada, tesas, troncudas, seculares árvores, aos milhares vão ao chão; o tratorista trata tudo com furor infernal, sem saber do mal que faz a mando do patrão, do empregador; pilha pássaros no ninho, mata filhotinhos; humilha, derruba, destrói toda a família da natureza – fauna, flora -,  na degola, entope vertentes e nascentes na afoiteza do acúmulo de riquezas.

 

 Naquele vai-vai incessante, inconseqüente,  estressante, a natureza doente se esvai e vem o que não convém ao homem: a sequidão, o calor escaldante, o maremoto, o tremor e o estertor da terra, o desespero do destempero do tempo. A natureza berra, mas o insano ser humano continua na estranha guerra  de a tudo destruir, sem se preocupar com o porvir, com o que há de
vir.

 

             Desumano, profano, ingrato, caricato em acumular sujidade,  o homem da cidade que tudo consome; insano ser a espalhar plástico, metano,lixo,  a pestear nossa esfera, a furar e danificar a camada protetora da atmosfera, ao crer na vaidade e veleidade de ser feliz, no sem juízo do prejuízo  imundo e profundo que pode causar ao mundo, na busca da felicidade, custe o que custar; tamanha sanha de acumular facilidades, mesmo ao saber, sentir, intuir e ver por um triz a vida, com a camada de ozônio sendo sucessivamente destruída. A terra não atura tamanha loucura, eis o aumento peçonhento da temperatura, na porfia de todos os dias.

 

 No açoite da noite, o calor multiplica, o corpo claudica à exaustão!  Nodoso, pegajoso aperto no coração… O mundo não cabendo no colchão!?  Suor em bicas, em profusão! Caldeirão! Calor do cão!  Num sus, o peso e o vezo daquela cruz: ruge, estruge um trovão! Um raio escaldante de luz, um sol real, com calor infernal, me traz algo de  especial: Vejo Isabel, lindamente feliz, afinal; com aquele jeitinho de anjo barroco, branquinha, tão minha, com aquele sorriso angelical! Amor platônico, estriônico, estupendo, tremendo, sem clemência, amor da adolescência!.. Dá-se então outra explosão: O mundo, num segundo indo-se ao chão.  Depois… só cinzas, caos, escuridão!

 

 Corpo,  coração em desmantelo, acordo de tão cruento, pestilento, pesadelo!

 

 Na ciência e inclemência da dúbia realidade deste sonho, tão medonho, uma premonição:

 

O fim da civilização!  Na verdade, o que se espera da falsa, egoísta e ilícita felicidade de nossa era!?

                                                                                                                                  Iporá, 11 de abril de 2017

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