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Folia de reis dos Lourenços em livro, uma forma de relembrar e reviver

Com apoio do Fundo de Arte e Cultura de Goiás, foi lançado no dia 4 de fevereiro, em Iporá, na ACAFI – Associação de Catireiros e Foliões de Iporá, o livro Folia dos Lourenço 1944 a 2013, de Dorivaldo Lourenço.

 

Esse livro está agora sendo vendido pelo autor, que tem o telefone (64) 9 9676-2375. O leitor terá a oportunidade de saber de onde saiu, por onde passou e onde a Folia foi entregue, bem como tomar conhecimento dos principais fatos que ficaram na memória dos foliões e das pessoas em geral. Além de ter a descrição dos rituais da Folia, bem como a transcrição de seus cânticos principais.

 

No município de Iporá, mais especificamente, na zona rural, um grupo de pessoas simples, na maioria de trabalhadores rurais, que conhece de perto as agruras da sobrevivência, mantém uma Folia de Reis desde tempos remotos. Criada antes mesmo da emancipação da cidade, quando era apenas um povoado, o grupo composto por representantes de várias famílias, a maioria dos Lourenço, dá exemplo de grandiosidade através da cantoria de fé. Por cinco dias (houve tempo em que eram sete dias) eles, como os Reis Magos (que eram reis, mas sem ostentar realeza) fazem a peregrinação da esperança, certo de também encontrar sua Estrela e o seu Menino Jesus na manjedoura.

 

É curioso como essa religiosidade popular tem uma logística diferente da religiosidade oficial. As igrejas constituídas, de um modo geral, se estabelecem em forma de templo, numa estrutura relativamente grande, e espera que os fiéis, os membros da sociedade, se reúnam ali para exercer suas atividades de fé. Já a religiosidade popular, no caso específico a Folia de Reis, ela reúne os elementos da religiosidade (a Bandeira, com estampa dos Reis Mágicos, o Menino Jesus e a Virgem Maria) e sai de casa em casa avivando a fé, levando as promessas de renascimento, ressurreição e salvação eterna.

 

A Folia de Reis se constitui num exemplo de fé e resistência cultural. É a oportunidade em que as pessoas, na maioria da zona rural, se encontram para uma semana de convivência harmoniosa. É um tempo de celebrar a fé e renovar os sentimentos de amizade e vizinhança. De ampliar os conhecimentos e trocar informações sobre o que se passa com os vizinhos, conhecer as novas crianças, os últimos chegantes e até mesmo a possibilidade de começar algum relacionamento entre os jovens, que poderão resultar em casamentos, dando início a novas famílias.

 

Participar da Folia, seja como anfitrião da bandeira ou como folião, seja como realizador de um almoço ou de um pouso, ou mesmo como mero assistente, é uma forma de estabelecer laços, de criar raízes com o lugar e com as pessoas. É uma forma de fortificar o sentimento de pertencer ao grupo.

 

Muitos meninos fazem de sua participação na Folia o seu rito de passagem de moleque para homem feito. Nestes tempos de consumo rápido, de cultura globalizada e descartável, uma Folia que já dura 70 anos é, sem dúvida, um feito extraordinário. Muitas pessoas têm a sua história de vida associada a esta Folia e o modelo de convivência social de boa parte dos habitantes do município vem sendo moldado com a cordialidade que emana da Folia de Reis. Além de se tratar de uma manifestação religiosa e artística de rara beleza, a Folia de Reis tem atuado como elemento de formação e continuidade social, num clima de maior integração e amizade.

 

Não seria de todo equivocado dizer que a cidade nasceu ao redor da movimentação da Folia de Reis e a partir daquele núcleo ativo e irradiador de uma noção de pertencimento, e entre as propriedades rurais esparsas, foi se formando o povoado de Itajubá, que veio a ser anos depois a atual cidade de Iporá.

 

Participaram desse processo outros fatores como a Marcha para o Oeste, a criação de gado, a exploração de diamantes e a procura da famosa terra massapé de origem vulcânica para a produção agrícola. Mas no aspecto cultural, não tenha dúvida, a Folia de Reis foi um dos fatores preponderantes para encontro, a união e o entrelaçamento das pessoas nos momentos de fundação da cidade. Hoje, a cidade cresceu, a sociedade sofisticou-se e se tornou complexa e as manifestações populares se tornaram algo lateral nesse contexto. Mas a Folia de Reis dos Lourenço continua exercendo um papel importante na integração entre o urbano e o rural da região, levando pessoas a se conhecerem, a se integrarem e sendo um dos fatores de identificação de cada pessoa com o lugar e seus acontecimentos. O que não é outra coisa senão a “noção de pertencimento” de que as atividades culturais visam alcançar, com o fito de que cada pessoa se sinta assentada no mundo, no seu locus social.

 

A Folia de Reis dos Lourenço, como é conhecida na região, teve origem na cidade de Monte Santo de Minas Gerais, nos idos de 1940. Na época, dona Faustina Emilia de Jesus, matriarca da família Souza, antes da mudança de parte da sua família para Goiás, apegou com Santos Reis. Comprometeu-se com os Santos de que, se tudo corresse bem com a mudança, a sua filha Maria Emília de Jesus, casada com Francisco Jose Souza (Chico Gordo), quando chegasse à região e adquirisse um pedaço de terra, estaria incumbida de promover a tirada de uma Folia de Santos Reis. Irene Emília Gomes, residente em Iporá, neta de dona Faustina, canta que o voto foi resgatado pela família no ano de 1944. Seu pai, Chico Gordo, promoveu o primeiro giro da Folia, que até hoje permanece viva e ativa na região. O embaixador daquela primeira Folia foi senhor Elisiário.

 

Assim, a que hoje é chamada de Folia dos Lourenço, na verdade foi tirada a primeira vez em Goiás pela a família Souza, do senhor Francisco José de Souza (Chico Gordo), em 1944 no povoado chamado de Itajubá, que cinco anos depois se tornaria Iporá. As pessoas que moravam na região gostaram da Folia e fizeram coroas e coroaram as pessoas que gostariam de girar com Folia do próximo ano, ou mesmo de bancar a festa da entrega, que é o momento de mais solene e de maior aglomeração da Folia. Essa tradição foi mantida na região de 1944 até 1959 pelas famílias Souza, Cunha, Marçal, Eugênio (Marques) Juca (Macena) e também pela família Tiadulino. O senhor Elisiário se manteve embaixador da Folia de 1944 até 1958. Em 1959 Elisiário foi sucedido pelo embaixador Geraldo Lourenço de Oliveira, que liderou a Folia até 1964. No final do ano de 1965, Geraldo Lourenço de Oliveira veio a falecer precocemente. No ano de 1965 o embaixador foi o senhor Romão de Freitas Silva. De1966 até 2013 o embaixador foi José Lourenço de Oliveira, sobrinho do embaixador Geraldo Lourenço. Pela primeira vez em 47 anos, José Lourenço de Oliveira, o Zezão para os íntimos, não dirigiu a Folia de Reis dos Lourenço. Já se achava debilitado por um mal que o levaria a óbito em 02/03/2014. Irmão caçula do falecido embaixador Zezão, Dorivaldo Lourenço, autor do livro Folia dos Lourenço, desde 2014 vem liderando a Folia.

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