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Quando a hierarquia dos valores éticos fala mais alto

 

A demolição do atual do templo sede da Igreja Evangélica Assembleia de Deus de Iporá, na Rua Goiânia, 372, para dar lugar à construção de outro, tem motivado comentários particulares e nas redes sociais. Uns apoiando, outros discordando e alguns, normalmente, criticando, inclusive a forma de levantar recurso financeiro para a construção do novo, amplo, confortável e, sobretudo, funcional lugar de adoração ao Senhor Deus. Se existe alguém que defendeu a sua preservação como um patrimônio histórico da igreja e da cidade, e se opôs, particularmente, à sua demolição, e que tem estado com o coração dolorido pelo seu desaparecimento, essa pessoa sou eu. Fui testemunha ocular da sua construção desde a abertura das valas e sapatas da sua fundação, em 1966, quando ainda era um adolescente que andava de engraxate nas costas pelas ruas poeirentas de Iporá, antes mesmo de ser membro da Assembleia de Deus. Senti e vou continuar sentido um grande pesar pelo seu desaparecimento. Quando olho para o local e vejo o grande vazio deixado pelo seu desparecimento, meu coração dói e um nó forma na minha garganta e não tenho conseguido conter as lágrimas.

 

Naturalmente, não era a favor da sua demolição para a construção do outro e defendia a ideia de preserva-lo como uma capela histórica para realização de casamentos, cultos de vigílias, pequenos eventos e velórios, preservando-o, assim, como um patrimônio histórico em memória dos pioneiros e pioneiras da Assembleia de Deus dessa região. Haja vista que sou um historiador que tenho lutado, há décadas, pela perpetuação da memória histórica de Iporá e regional, inclusive pela preservação de construções antigas da cidade, dentre elas, a casa de Elias Rocha, na Rua Ermesindo Pereira, esquina com a Avenida 24 de Outubro, e aquela onde foi realizado o primeiro culto da Assembleia de Deus em Iporá, em julho de 1943, na esquina oposta da mesma quadra, na Rua Lázaro Vieira, na Praça da Rodoviária, em frente o SENAC.

 

Por que, então, mudei de ideia? Alguém pode indagar. Depois de analisar e refletir sobre os prós e os contras da necessidade da demolição da bela e histórica “igreja sede”, e de ter batido uns papos com o “Pai nosso que está nos céus”, a quem pertencem “o reino, o poder e a glória” (se o prezado leitor não crê assim, respeito, inclusive o seu direito de ser ateu), fiquei convencido da necessidade da construção do novo templo e optei por não me opor e nem criticar o projeto, convicto de que Ele tinha razão, ao me convencer do fato de que a conduta ética é pautada pela hierarquia das prioridades, isto é, pela ordem de valores das coisas. Visto que o fundamento moral da razão de ser de todas as coisas no universo é o amor, que não se conduz por sentimentos, mas pela intenção e disposição de promover, sempre, o melhor bem e felicidade possíveis ao Criador e suas criaturas e, consequentemente, ao nosso semelhante. Assim, a vida humana e a preservação de sua dignidade estão no grau mais elevado da escala de valores e da hierarquia das prioridades de nossas escolhas, propósitos e ações. É esse princípio de conduta que dá sentido à vida e à nossa razão de ser aqui nesta Terra. O Senhor Jesus mesmo postulou, de forma categórica, esse princípio da hierarquia das prioridades quando disse: “O que adianta ao ser humano ganhar o mundo inteiro e perdera sua alma (ou a sua vida)?” E arrematou: “Buscai, pois, em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça”. Logo, as nossas obrigações morais aqui neste mundo, começam com os interesses de Deus, que tem por prioridade primeira a promoção do bem-estar dos ser humano, decrescendo para as outras formas de vida até à preservação de todas as condições naturais do meio-ambiente, sem o qual, o propósito do Criador não se realiza na sua criação.

 

Daí, olhando por esse prisma do conjunto dos benefícios que o novo templo irá proporcionar aos fiéis e iporaenses em geral, justifica-se, eticamente, desfazer de um patrimônio histórico, em prol da felicidade de muitas pessoas: uma perda material, é verdade, mas não histórica, pois a memória do templo demolido está muito bem registrada no livro, Quando Samambaia Pegou Fogo e em documentários de imagens e som. É pertinente ressaltar ainda – como registra a história bíblica e secular – que, na história do povo de Deus, quando locais do culto se tornaram objeto de veneração sacrossanta, assumindo o lugar da glorificação divina, Deus os entregou à destruição total, como aconteceu com o templo de Salomão, na destruição de Jerusalém por Nabucodonosor, da Babilônia, e o do pós-exílio, destruído por Roma, em 70 d.C. O Senhor Jesus mesmo não deixou dúvida sobre isso. Quando seus discípulos, maravilhados, lhe mostravam as belezas arquitetônicas e artísticas do templo reconstruído e ampliado por Herodes, o Grande, em Jerusalém, ele respondeu: “Estão vendo tudo isto? Em verdade digo a vocês que não ficará aqui pedra sobre pedra que não será demolida”. E 37 anos depois, o general romano, Tito, destruiu a cidade e demoliu o templo até aos seus fundamentos! O que não significa que para Deus o patrimônio histórico não seja importante, mas devido o fato das pessoas terem invertido a ordem da hierarquia de valores, priorizando coisas em lugar de pessoas e vida.

 

Outro fator que levo em consideração, para justificar a construção do novo templo, é o fato de que não se trata de uma “obra faraônica”, motivada pela vaidade humana, com a intenção de se “erguer monumentos a fim de perpetuar a memória pessoal”, como tem acontecido nos meios eclesiásticos. Mas para atender a demanda do progresso da obra de Deus no curso do tempo, como ocorre em todos os empreendimentos da vida. A Igreja Assembleia de Deus em Iporá tem crescido e atuado não só na evangelização. Atua também – através do Instituo Oásis mantenedor de suas entidades filantrópicas – nas áreas filantrópica, cultural e social, em nada sendo inferior ao que os outros segmentos religiosos tem feito. Ainda na década de 1970, criou a Casa das Viúvas, para abrigar viúvas pobres desamparadas. Atualmente, com o mesmo objetivo, existe o Projeto Nossa Casa, que já construiu mais de uma dezena de casas para famílias sem teto e continua em expansão. Há vários anos o Abrigo Bom Samaritano, ampara idosos com amor e dignidade, dando-lhes a assistência material, emocional e espiritual necessária. O Projeto Sonho de Criança, criado e dirigido pelo pastor Célio, presidido pelo pastor Ataul, ampara na Casa Lar crianças e adolescentes, vitimas de maus tratos e violências domesticas. Na área cultural, a Escola Evangélica Betel tem desempenhado sua missão, em seus 20 anos de existência, de forma excepcional, oferecendo uma educação de qualidade, comprovada pelos programas de avaliação aplicados pelos governos estadual e federal, e com sua filosofia de funcionalidade direcionada pelos princípios evangélicos, valorizando a dignidade humana, a cultura e os valores cristãos éticos e familiares. Por tanto, faz sentido e é coerente que a Igreja invista agora na ampliação e melhoramento do seu ambiente de culto congregacional, visto que as congregações contam com templos maiores e mais confortáveis do que a sede. Pois a catedral, onde funciona a Escola Betel, não oferece condições para cultos regulares permanentes (como acontece, provisoriamente, enquanto durar a construção do novo templo), mas é um espaço próprio para eventos esporádicos: festas, congressos, convenções, etc.

 

Portanto, por uma questão de responsabilidade moral, como membro da Assembleia de Deus de Iporá, há mais de quarenta anos, e pastor jubilado, não poderia deixar de fazer uso deste espaço do conceituado Oeste Goiano, para expor minhas considerações a respeito da importância e necessidade da realização do projeto da construção do novo templo, e também defender os justos interesses desta organização religiosa à qual pertenço, bem como as ponderadas razões do seu Presidente, pastor Ataul Alves Rosa – que, antes de tudo, é pastor de almas e seu líder espiritual – quando assumiu, com amplo apoio dos membros locais e do campo, o compromisso e a responsabilidade de executar esse projeto de tamanha envergadura arquitetônica. Um edifício que oferecerá, além das adequadas e merecidas condições para que os fiéis e assistentes possam congregar e cultuar a Deus em um ambiente de excelente comodidade, conforto e segurança, ainda servirá de testemunho tangível de que os assembleianos tem realmente prosperado com a bênção de Deus, desde que começaram essa obra de evangelização em Iporá, há 72 anos, e que também contribuíram para a prosperidade econômicas e cultural da cidade. Gente essa que, no princípio, era desprezada, ridicularizada, perseguida e chamada, de forma desprezível, de “pentecosta”. Cujos filhos e filhas eram “bulinados” (de booling) por colegas na escola com o pejorativo refrão: “Pentecosta, caiu de costa e rolou na bosta; se não gostou, rola de novo, pra ver se gosta”. Também, não tenho dúvida, de que a realização desse projeto arquitetônico majestoso e moderno, será mais um dos cartões postais de Iporá que servirá de motivo para elogios à cidade, por aqueles que a visitarem ou por aqui passarem, como o nosso Lago Por do Sol. Nossa cidade merece!

 

Quanto à forma de provimento dos recursos financeiros para a execução do projeto de construção do novo templo, nada há de antiético, antes está de acordo com o princípio bíblico que diz: “Deus ama quem dá com alegria” e, “cada um contribua conforme propôs no seu coração”. Ninguém na Assembleia de Deus em Iporá é obrigado a contribuir – quer se trate de dízimos, ofertas, carnês de cotas mensais, etc. – por imposição, coação ou induzido por promessas de recompensas de prosperidade material e espiritual. E até o último centavo é gasto de forma honesta e transparente. Minha esposa e eu somos dizimistas e ofertantes, inclusive pelo carnê destinado especificamente ao custeio da mão-de-obra da construção. Mas fazemos isso com prazer em gratidão a Deus a quem devemos cem por cento de tudo o que somos e temos: é o mínimo que podemos lhe demonstrar em reconhecimento pelo o amor com que nos tem amado provendo-nos e à nossa família sempre com o melhor e com abundância, e jamais o fizemos visando recompensa divina ou por temor de sofrer dificuldades e maldições na vida, caso não avenhamos a contribuir.

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